
Foto: Cariny Moura
Biografia
Sávio Silva de Oliveira também conhecido como Savio di Maio é um cientista político, professor, escritor, compositor e cantor brasileiro. Nasceu em 24 de maio de 1995, na comunidade de Córrego do Itá, zona rural do município de Barra de São Francisco, Espírito Santo uma região que abriga numerosos descendentes da imigração alemã, da qual seus avós maternos fazem parte. Filho de trabalhadores do campo, passou a infância e adolescência na roça, vivenciando uma realidade típica de uma família camponesa do Brasil profundo.
Estudar sempre foi um desafio, visto que a escola ficava localizada a quilômetros de sua casa e o trajeto era feito à pé e parte dele atravessando uma mata, que na volta da escola era feito já a noite. Ao longo da vida foi picado por uma jararaca precisando ser hospitalizado por vários dias e também por um escorpião, além de outros incidentes típicos de quem vive na zona rural. Ele ajudava os pais na lavoura de café no contraturno escolar, fato que tornava sua agenda bastante corrida, enquanto era comum que muitos de seus colegas desistissem de terminar os estudos para trabalhar. Sávio fugia do estereótipo de aluno “nerd”. Era uma criança, e principalmente um adolescente, muito questionador, e frequentemente ia parar na sala da diretoria por “mau comportamento”.
Enfrentava bullying de seus colegas por ser gay, que se convertia em situações de violência física, tornando sua vida bastante conturbada no interior, com episódios de difamação, fofoca e humilhações públicas. Essa vivência o fez desenvolver uma personalidade retraída e compreensivelmente combativa. Em meio a isso, Sávio gostava muito de escrever e cantar, e estava sempre envolvido com alguma atividade nesse sentido, mesmo que a recepção das pessoas estivesse atrelada aos boatos maldosos que circulavam sobre seu nome.
De família evangélica, foi criado na Igreja Presbiteriana do Brasil até os 18 anos, quando decidiu se afastar da igreja uma escolha difícil, feita contra a vontade da família. Optou por uma saída silenciosa e gradual, pois não queria confrontos diretos. Buscava, acima de tudo, se proteger de um ambiente familiar tóxico principalmente dos parentes de sua família materna, marcado por constantes tentativas de “correção” de sua sexualidade. Rejeitava qualquer forma de “cura” ou auxílio espiritual, pois sempre soube que não havia nada de errado com ele. Esse contexto de assédio na escola, na família e na comunidade como um todo fez aumentar a sensação de não pertencimento e de que talvez tivesse nascido no lugar errado.
Quando terminou o ensino médio, começou a trabalhar na cidade, mas foi demitido do emprego de garçom que conseguiu, algo que lhe deixou muito triste e lhe deu coragem para aceitar o velho convite de familiares de Belo Horizonte para ir morar na cidade e estudar. Em 2016, aos 20 anos, mudou-se para Belo Horizonte em busca de oportunidades na música, mas encontrou também um caminho para o desenvolvimento intelectual e crítico.
Sem dinheiro para pagar uma faculdade, fez o Enem e ganhou uma bolsa do Pro uni. Entrou na PUC Minas cursando Teologia e depois mudou para Geografia. Sávio fez iniciações acadêmicas e científicas em tudo que podia, pois precisava das bolsas diante das dificuldades financeiras que enfrentava. Esse período foi um terreno fértil para que pudesse desenvolver seu talento para escrita e o adensamento teórico metodológico que acabaram se tornando suas marcas acadêmicas.
Em meio a esse momento inicial na capital mineira, fez parte de várias bandas musicais e escreveu diversas músicas nesse período que viriam a compor seu primeiro álbum. Em meio às muitas atividades que desenvolveu durante a graduação, Sávio participou do programa Escola Integrada da Prefeitura de Belo Horizonte, atuando como monitor em uma escola no bairro Taquaril, na periferia da cidade, durante dois anos.
Logo que chegou a Belo Horizonte, sentiu a necessidade de voltar a fazer parte de uma comunidade religiosa um modo de buscar estabilidade emocional, reconciliação com sua história e manter os pés no chão diante da nova fase da vida. Passou então a frequentar a Igreja Batista da Lagoinha, que ficava próxima de sua casa. Depois de ser batizado novamente (já havia sido batizado na infância), passou a integrar o Ministério de Louvor da igreja, onde cantou por quatro anos. Com o tempo, porém, começou a se sentir desconfortável com a crescente aproximação das lideranças da igreja ao bolsonarismo e a postura cada vez mais radical e excludente. Acabou se afastando, guiado por uma nova forma de enxergar a vida, a espiritualidade e a própria Bíblia agora marcada por uma busca mais livre, crítica e pessoal de sentido.
Já pelo fim da graduação em 2021, sem perspectivas profissionais claras e o fracasso dos sucessivos projetos de bandas que iniciou, Sávio teve o diagnóstico de HIV+, fazendo-o refletir acerca do futuro: decidiu que tentaria o mestrado e que levantaria recursos para gravar suas músicas. Inicialmente, a ideia era fazer mestrado em Educação no Vale do Jequitinhonha, pois havia um programa lá que o interessava, mas teve um projeto para o financiamento da gravação de suas músicas aprovado. Já que continuaria em Belo Horizonte para a produção musical, decidiu tentar algum mestrado na Universidade Federal de Minas Gerais. O programa que mais lhe interessou foi o de Ciência Política, fez o processo seletivo e foi aprovado. Com as esperanças renovadas, mudou-se da Zona Oeste para a Pampulha, agora como mestrando, e começou a lançar suas primeiras músicas sob o nome artístico de Savio di Maio.
Como Savio di Maio lançou o álbum Quando Não Tinha Chão Para Cair, dividido primeiro em dois EPs: Cantador de Histórias e Itá. Tocando MPB, Pop e Rock, as letras narram justamente a vida na roça, a mudança para a cidade grande e as lições que aprendeu. A promoção de vários singles foi feita ainda em 2022, durante o mestrado, o que deixou sua agenda bastante dividida.
Sua pesquisa no mestrado abordou o ativismo evangélico e a relação desse segmento com a política nacional nos últimos anos. Teve uma defesa aclamada, mas conflitos internos dentro do programa, por causa de seus posicionamentos, o fizeram desistir de continuar o doutorado na UFMG.
No plano pessoal, o fim de um relacionamento e outros problemas o fizeram desejar se mudar de Belo Horizonte após oito anos morando na cidade. Fez o processo para o doutorado na Universidade de São Paulo em 2023, mas foi reprovado na primeira fase. Diante disso, decidiu voltar para o Espírito Santo e estudar mais um ano para tentar novamente o doutorado na USP. Assim fez e, desta vez, foi aprovado e se mudou para São Paulo no início de 2025.
Diante de todas as etapas de sua história e dos mundos contraditórios que percorreu, saindo de uma realidade rural e conservadora e sendo aprovado nas maiores universidades do país, onde o progressismo é um valor absoluto, aprendeu com o tempo a equilibrar dois mundos diferentes. Essa vontade de querer conectar mundos diferentes inspirou seu projeto de doutorado, que é sobre despolarização, tendo como estudo de caso a relação complexa entre a esquerda e a comunidade evangélica.
Na capital paulista, Sávio seguiu com seus posicionamentos fortes em temas polêmicos, o que lhe rendeu amplo reconhecimento nas redes sociais, somando milhares de seguidores e enorme engajamento digital. Sávio tornou-se conhecido principalmente por apontar a desconexão do progressismo academicista de esquerda e a classe trabalhadora. Suas principais críticas, nesse sentido, estão em dizer que o identitarismo acrítico é na verdade o Cavalo de Tróia do capitalismo americano, que foi traduzido no Sul Global via Teoria De colonial tese central de seu primeiro livro. Tem se destacado também no debate sobre gênero e sexualidade, ao defender que privilégios e opressões estão ligados ao sexo biológico e não à identidade/performance de gênero.
Por entender que o avançado desgaste político e afetivo entre as pessoas precisa de ações concretas de arrefecimento e educação política, idealizou o projeto DESPOLARIZE-SE, a fim de criar uma comunidade de pessoas interessadas em debate democrático e construção de pontes entre diferentes perspectivas.
Munido de sua trajetória acadêmica a graduação em Geografia pela PUC Minas, o mestrado em Ciência Política pela UFMG e o doutorado na USP, Sávio tem plena consciência das imensas barreiras que precisou transpor desde que saiu da roça. Ele agarrou as oportunidades que surgiram pelo caminho, conciliando enormes dificuldades financeiras com a persistência necessária para dar continuidade aos estudos.
Ao celebrar um currículo que reúne títulos acadêmicos em algumas das melhores universidades do país, artigos e ensaios publicados em revistas prestigiadas e em veículos de comunicação de impacto nacional, conquistou ampla notoriedade no meio acadêmico por tratar de temas sensíveis e, ao mesmo tempo, reconhecimento popular, por fazer com que suas discussões ultrapassem a bolha universitária e encontrem eco no seio da população trabalhadora, de onde veio e com a qual nunca deixou de manter compromisso.
Esse duplo pertencimento lhe deu clareza sobre a sua missão: continuar dialogando com diferentes mundos, numa linguagem acessível e numa didática capaz de conectar perspectivas diversas. Por isso, Sávio não hesita em criticar os sistemas e os discursos divisivos que marcam tanto os movimentos sociais da esquerda quanto militâncias à direita nos últimos anos.
Hoje, Sávio tem se conectado a uma verdadeira nação de pessoas comprometidas com a despolarização e o diálogo, unidas pelo desejo de superar a fragmentação política e social. Seu trabalho busca inspirar uma visão de país que vá além das disputas identitárias e das trincheiras ideológicas, reafirmando a importância da escuta, da convivência nas diferenças e do reconhecimento material das estruturas que produzem e sustentam as desigualdades.